O Futuro da Análise do Comportamento e o Analista do Comportamento do Futuro

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Imagino que em algum momento você já deve ter se perguntado se esse negócio de Análise do Comportamento "dá futuro". Será se dá mesmo? Aqui vou te apresentar alguns dados que apontam para o sucesso dessa área no futuro.

Além do relatório publicado pela BACB no início desse ano apresentando um aumento contínuo da demanda por Analistas do Comportamento nos EUA, o Relatório de Profissões Emergentes para 2020 do LinkedIn apontou "Técnico em Saúde Comportamental" como uma das 10 profissões de maior crescimento nos últimos 5 anos nos Estados Unidos, com média de crescimento de 32% ao ano desde 2015. A profissão dividiu a lista com outras 14 ocupações emergentes, como Especialista em Inteligência Artificial e Engenheiro de Machine Learning, sendo que seu desempenho foi melhor do que Engenheiro de Nuvem e Especialista em Cibersegurança, carreiras que apontam grande crescimento para o futuro próximo.

O "Técnico em Saúde Comportamental" geralmente apresenta um perfil de formação técnica ou profissional (nível médio) nos princípios básicos da ciência e prática da Análise do Comportamento (Análise Aplicada do Comportamento - ABA, em inglês). O próprio BACB criou uma categoria para certificar esses profissionais, chamada de RBT (ou Técnico Comportamental Registrado, em tradução livre). Aqui no Brasil, muitos profissionais desempenham essa função sob a designação de AT, ou Acompanhantes Terapêuticos.

Segundo o relatório, o aumento na demanda de profissionais da área foi devido ao aumento na demanda para tratamento do autismo, da dependência química, e de outros problemas comportamentais e de saúde mental no país. Embora não foram apresentados os fatores responsáveis pelo aumento na demanda por analistas do comportamento no relatório da BACB, acredito que estes mesmos fatores podem ter contribuído, já que a Saúde Comportamental é o principal mercado da profissão no país.

Os problemas comportamentais responsáveis pelo aumento dessa demanda não vão acabar (inclusive só aumentam) e a profissão é baseada em evidências científicas sólidas que apresentam impactos reais no melhoramento do bem-estar de pessoas, organizações e comunidades, nos EUA e no mundo, portanto, tem futuro sim!

Agora que sabemos que a Análise do Comportamento tem futuro, como será o futuro Analista do Comportamento?

O futuro Analista do Comportamento provavelmente atuará em um contexto com forte presença de tecnologias digitais atualmente emergentes, como Realidade Virtual, Machine Learning, Internet das Coisas e Simulação Computacional. Essas tecnologias não só farão parte do contexto de atuação como também parte do ferramental profissional, auxiliando na automatização da análise, previsão e intervenção comportamentais.

Nesse sentido, em relatório recente, a Royal Society for the Encouragement of Arts, Manufactures and Commerce (RSA, na sigla em inglês) explorou possíveis cenários de desenvolvimento do mundo do trabalho no Reino Unido até 2035, e apontou quatro possíveis conjunturas econômicas: a (1) Economia Big Tech, a (2) Economia de Precisão, a (3) Economia do Êxodo, e a (4) Economia da Empatia.

Cada uma dessas conjunturas seriam prováveis desfechos do desenvolvimento econômico atual para os próximos 15 anos, e em cada um dos cenários novas profissões emergiriam e profissões atualmente em demanda e crescimento seriam consolidadas.

Na Economia de Precisão, em especial, o desenvolvimento tecnológico seria moderado e haveria a universalização de métodos de coleta e análise de dados que dariam base para uma nova uma economia baseada em dados comportamentais. Nesse contexto, ocupações como as de Cientista Comportamental, Gamificador e Analista de Dados, seriam emergentes.

Nesse cenário econômico, organizações governamentais e não governamentais buscariam novas formas de produzir e explorar dados gerados por pessoas, ou seja, dados comportamentais, por meio da aplicação de tecnologias como sensores e internet das coisas, e buscariam também consolidar dados gerados por aplicações, além de desenvolver algoritmos de análise e modelagem de dados mais sofisticados.

O maior desafio dos analistas e cientistas comportamentais nesse contexto, seria equilibrar interesses comerciais do capitalismo da informação com os interesses das pessoas de forma ética. Nesse cenário, previsão e controle do comportamento não seria apenas um método, mas uma commodity de alto valor.


Saiba mais: The Four Futures of Work: Coping with uncertainty in an age of radical technologies.

Saiba mais: US 2020 Emerging Jobs Report.

Gehazi Bispo

Gehazi Bispo

Psicólogo experimental e cientista do comportamento. Interessado em aprendizagem & comportamento adaptativo, evolução cultural, modelagem & simulação do comportamento, ciência da complexidade, e inteligência computacional.